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346%: Esse é Crescimento de Homicídio de Adolescentes no Brasil!

Homicídio de adolescentes sobe 346% em 30 anos
Total também inclui crianças; acidentes de trânsito, principalmente com motos, preocupam na faixa de 14 a 18 anos

Bruni Paes Manso


De um lado, avanços em pesquisas e mais investimentos em saúde nos últimos 30 anos diminuíram os riscos de crianças e adolescentes morrerem de doenças e causas naturais no País. De outro, o Brasil ficou mais violento para essa faixa da população no mesmo período. 

Entre 1980 e 2010, o total de mortes de pessoas entre 0 e 19 anos por doenças e causas naturais passou de 387 casos em cada 100 mil pessoas para 88,5 por 100 mil, queda de 77%. Por outro lado, cresceu o total de crianças e de adolescentes que morrem por causas externas, que incluem homicídios, suicídios, acidentes de trânsito e de outros tipos. As vítimas de causas externas, que somavam 27,9 casos por 100 mil habitantes em 1980, alcançaram 31,9 casos por 100 mil em 2010, aumento de 14,3%. 

Em 30 anos, 55 crianças e adolescentes morreram diariamente por homicídios, suicídios e acidentes, total suficiente para colocar o Brasil nos primeiros lugares no ranking de países mais violentos para crianças e jovens no mundo. É o quarto onde mais se mata e o 12.° onde mais se morre por acidentes de trânsito. 

A piora no quadro de mortes por causas externas foi puxada pelos homicídios, que cresceram 346,4% em 30 anos. Em 1980, morreram assassinadas 3,1 crianças e adolescentes em cada 100 mil, total que alcançou 13,8 casos por 100 mil em 2010. Também aumentou o total de suicídios (38%) e de acidentes de trânsito (7%). 

Os dados são do Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes do Brasil, estudo feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e pela Flacso Brasil. "Esses dados ajudam a revelar certos aspectos do Brasil que às vezes passam despercebidos. O fato de no Brasil se matar 130 vezes mais crianças e adolescentes do que no Egito revela que algo está errado", diz o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, que coordenou a pesquisa. 

Situação em SP. Em 2010, São Paulo foi a capital brasileira com menor número de assassinatos de jovens e crianças, com 5,3 homicídios por 100 mil habitantes. No trânsito, entre as 27 Unidades da Federação, o Estado paulista ficou em 22.º lugar, entre os menos violentos. 

No caso dos acidentes de trânsito, o estudo revelou peculiaridades interessantes. Na última década, diminuiu o total de mortes entre crianças de 2 a 13 anos. Nos extremos, porém, tanto entre bebês de 0 a 1 ano quanto entre adolescentes de 14 a 19, aumentou o número de vítimas. 

Para os jovens, esse aumento ocorreu principalmente por causa do crescimento da venda e uso das motocicletas, que representaram 39% das mortes em acidentes de trânsito, à frente do automóvel (19,3%) e pedestres (12%). "É uma idade complicada. Chamamos o jovem de 14 a 18 anos que dirige de 'aventurista', aquele que pega a moto e a bicicleta e mergulha no meio do trânsito sem pensar muito nas consequências", explica Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).  

Violência sexual. O estudo também tentou identificar os atendimentos feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) de jovens e adolescentes vítimas de violência física e de abuso sexual. 

A fatia com maior quantidade de vítimas compreende crianças de 1 a 4 anos. Em 2011, foram atendidas no Brasil vítimas de agressão 6.132 crianças, enquanto 1.607 jovens entre 15 e 19 anos foram parar nos hospitais por causa de violência física. "Nos casos de violência há ainda as cifras negras, casos que acabamos não conhecendo porque a vítima fica constrangida em pedir ajuda", diz Waiselfisz. 

Ainda em 2011, 10.425 pessoas foram atendidas em hospitais vítimas de violência sexual. Em 23% dos casos, pais e padrastos foram os responsáveis pelo abuso. 

Em julho do ano passado, o guarda-civil de Diadema Claudio Martins de Freitas, de 52 anos, perdeu o filho Jefferson, de 18, assassinado. O mais velho, Cleiton, de 21, foi preso. Sem pensar nas consequências, os dois jovens arriscaram o futuro ao tentar assaltar um carro. No Brasil, a faixa de vítimas de homicídios com 18 anos registrou 58,2 casos por 100 mil habitantes. 

Como guarda-civil, Freitas concorda que deveria haver punição. A reação por parte dos policiais no caso, no entanto, segundo ele ouviu de testemunhas, foi desproporcional. O caso, porém, foi arquivado por falta de provas. "Os policiais também são jovens demais, despreparados." / B.P.M. 

Análise: Bruno Paes Manso

Mais do que excesso de hormônios, a neurociência já identificou na imaturidade do córtex órbito-frontal dos jovens - área do cérebro responsável por cálculos de custo-benefício - uma das causas do excesso de decisões equivocadas nessa faixa etária. A imaturidade leva o jovem a não pensar nas consequências de longo prazo e a sobrevalorizar os ganhos de curto prazo. 

As consequências dos erros podem ser fatais. O País lidera o ranking da violência contra crianças e adolescentes em diferentes pesquisas. Enquanto em Portugal, por exemplo, os homicídios de 0 a 19 anos correspondem a 0,2 caso por 100 mil habitantes, no Brasil essa taxa chega a 13 - 65 vezes mais. 

E a sociedade brasileira parece viver um contrassenso. Ao mesmo tempo em que avanços na saúde permitem combate mais eficiente a doenças, o Brasil parece incapaz de construir instituições capazes de garantir comportamentos mais civilizados. São responsáveis pelos homicídios de crianças e adolescentes tanto os jovens que convivem com eles e matam muitas vezes por motivos banais, quanto integrantes das instituições policiais, que deveriam ser responsáveis por controlar e punir comportamentos violentos. 

A dificuldade em lidar com jovens também fica evidente no trânsito. Motos tornam a vida sobre duas rodas um comportamento quase suicida. De 2000 a 2010, as mortes de pessoas de 19 anos, por exemplo, cresceram 72%. 

A fragilidade das estruturas familiares é outro fator. Segundo o Mapa da Violência, pais e padrastos foram responsáveis por 39% das agressões contra crianças e adolescentes em 2011.


Fonte: O Estado de S.Paulo

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